Demorei para criar coragem para escrever esse texto que invade tanto a minha intimidade, mas que eu julgo necessário, tanto para contar e desabafar sobre o que tenho sentido, quanto para, talvez, informar e alertar para esse tipo de problema, que, estima-se, mais de 50% das mulheres tenham.
Nunca fui lá muito fã de ir ao ginecologista, tenho sérios problemas com intimidade, e realmente, não sei se alguma mulher gosta de ir a esse especialista, eu, particularmente, acho desconfortável, me sinto vulnerável, e claro, evito ao máximo e só vou quando é estritamente urgente. Do tipo, urgentíssimo.
Eis que alguns meses atrás, com todo o stress no final do semestre da faculdade, estava sentindo os sintomas da pielonefrite (aqui tem texto sobre o que passei com essa doença) novamente, e para não deixar chegar no estado crítico decidi ir á ginecologista. Porém, o que eu não esperava que tivesse que passar acabei passando. A médica, ao descobrir que eu, aos 25 anos, vida sexual “ativa” (nem tão ativa assim) desde os 17 anos, NUNCA tinha feito o exame do colo do útero, quase me obrigou a fazer.
Sim, eu sei que eu teria que fazer anualmente esse exame, mas eu sou uma pessoa que peca em muitos sentidos, e sim, a saúde é um deles. Eu não sou uma pessoa de alimentação regrada, eu não faço exames regularmente, eu tenho um colesterol altíssimo, nunca fiz um check-up, sou sedentária, e só vou ao ginecologista quando realmente eu PRECISO ir, nos casos de não ter outra solução mesmo.
Acontece que no resultado do exame apontou uma alteração chamada ASCUS, um tipo de HPV. WTF HPV? Sim. HPV. Papiloma vírus, aquele que causa câncer no colo do útero, que, é sexualmente transmissível? Também. Acontece, que o HPV tem uma contaminação não apenas pelo ato sexual, e também, o uso da camisinha não garante que você não contraia esse vírus. Aposto que isso você não sabia. E nem eu sabia disso. É possível pegar HPV de uma toalha usada, ao sentar no sanitário, e sim, no rala e rola COM CAMISINHA.
E então você se pergunta, como se prevenir dessa bosta?
Fazendo o exame todos os anos, e, aos mais afortunados, fazendo a vacina, que, para quem não tem o vírus, ainda é uma solução. Espero que você tenha a sorte que eu não tive. Porque, de certa forma, o HPV é uma loteria. E ao homem que transmite o vírus, dificilmente, o vírus se manifesta, pois, digamos, ele é apenas o “distribuidor”. Bacana né?
Quando eu apresentei o resultado do meu exame para a médica ela me solicitou mais um exame, para descartar a possibilidade de evoluir para um câncer. E lá vai Daiane desembolsar mais dinheiro em exame, sim, pois, eu não tenho plano de saúde, e o SUS na minha cidade é um horror, você morre esperando uma consulta, isso quando tem médico, porque não é sempre. Por isso, eu optei pela rapidez do particular, e é claro que essa rapidez não é barata.
O exame que eu fiz, se chama colposcopia, acompanhado de… uma biópsia, que seria feita se fosse necessário. E é claro que foi.
Bom, depois de todo o desconforto, o resultado desse exame me deixou um pouco preocupada, como se toda a situação já não fosse preocupante, esse foi mais um ponto para a preocupação. Ainda não levei o exame na minha médica ginecologista ainda, mas levei a questão para a minha psiquiatra, porque, bom, primeiramente, ela é a minha psiquiatra, segundamente (?), ela é médica e entende, nem que seja um pouco, sobre isso.
O resultado do exame apontou uma lesão chamada NIC II, lesão de alto grau. Primeiro pensamento é : PUTA QUE PARIU, LESÃO DE ALTO GRAU, CARAIII!!
Calma, não é tão ruim assim. É grave, tem que ser feito um procedimento, mas é algo, digamos, normal.
NIC II é uma lesão pré-cancerígena no colo do útero, ela deve ser cauterizada, para evitar que evolua como um pokémon para o estágio III que antecede o câncer. NIC I, II, e III são estágios, ainda pré-cancerígenos, NÃO É CÂNCER, caraio! Essa é a coisa boa, a coisa ruim, é o procedimento de cauterização que necessita de bloco cirúrgico e anestesia local. Ou seja, mais alguns desconhecidos vão me ver de perna aberta, olha que situação mais bacana!
Todo o meu medo, ao me abrir tão intimamente aqui e contar uma história tão pessoal, era o de ser julgada pela minha conduta sexual ou a minha “promiscuidade”, mas sinceramente, podem pensar o que quiserem.
Eu sou uma mulher, eu tive relações com algumas pessoas, não muitas, confesso, mas, e daí? Ninguém devia me julgar. Eu mesma me intitulo vadia pelo simples fato de ser mulher, ser livre, decidir transar com quem eu quiser e não me importar com isso, e se isso faz de mim uma vadia, pois bem, prazer, Vadia, e livre. O número de parceiros e o fato de usar ou não preservativo no ato, não te deixa mais livre de passar pelo mesmo problema que o meu.
Por isso, é necessário fazer o exame todo o ano, e no meu caso, por ter esse incidente, a cada seis meses eu terei que repetir o exame. Demora pra gente criar uma responsabilidade com certas coisas, mas, depois que se toma um susto como esse que eu estou tendo, a gente aprende a deixar a vergonha e o desconforto de lado em prol de um bem maior.
A minha pergunta é, quantas mulheres precisam passar pelo que eu estou passando pra tomar consciência de que tem que ser responsável com esses exames? O câncer que mais mata mulheres é o de mama, o segundo que mais leva a óbito é o de colo do útero, então, vamos acordar?
Beijos ;*
Fonte das imagens: Aqui, Aqui, Aqui, Aqui e Aqui.